Agrotóxicos podem causar doenças como depressão, câncer e infertilidade

A Anvisa avalia todo ano se os alimentos não têm agrotóxicos demais. O resultado é uma lista com os campeões em contaminação: frutas, legumes e verduras que apresentaram nível de agrotóxicos acima do permitido.

Parece que o agricultor José Gonçalves Durães vai para a guerra, mas ele está indo para o pomar. Toda a roupa e a arma na mão são para enfrentar um inimigo. Há anos, ele trabalha com agrotóxico. O veneno é poderoso. Não mata só a mosca da goiaba, ataca também a saúde do homem.

Quem afirma é o epidemiologista Sérgio Koifman, da Fiocruz, que se dedica a estudar os efeitos dos pesticidas, substâncias das mais agressivas. “Elas têm o efeito bastante diversificado nas populações que estão expostas tanto diretamente, como na população em geral, que, por exemplo, entra em contato através dos alimentos”, alerta.

O Brasil é campeão mundial no uso de agrotóxicos. Mas, na hora de fazer compras, passa pela cabeça das pessoas que frutas legumes e verduras podem fazer algum mal para saúde?

“Não, pelo contrário, porque eles têm vitaminas, coisas que são boas”, diz a dona de casa Maria Lambertini. “A gente pega essa fruta aqui. Como é que eu posso saber quanto de agrotóxico ela tem?”, questiona a assistente financeiro Sandra Malheiros.

Como saber se os alimentos que nós consumimos todos os dias não têm agrotóxicos demais? Só mesmo testes em laboratório para dizer, e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) faz essa avaliação todo ano. O resultado é uma lista com os campeões em contaminação: frutas, legumes e verduras que apresentaram nível de agrotóxicos acima do permitido ou resíduos de produtos químicos não autorizados para aquele tipo de alimento.

Onde será que o peso dos agrotóxicos foi maior? Em terceiro, foi no pepino. Em segundo, vem a uva. E, em primeiro lugar, está o pimentão. A Anvisa descobriu que 80% das amostras de pimentão apresentavam irregularidades.

A avaliação faz parte de um programa para controlar e reduzir a quantidade de agrotóxicos na alimentação dos brasileiros. No levantamento mais recente, de 2009, em 20 alimentos analisados, quase 30% das amostras tinham agrotóxicos acima do limite ou substâncias não permitidas.

“Em determinadas amostras, tinha mais de cinco tipos diferentes de agrotóxicos não autorizados. E isso é sério. É sinal de que a gente precisa fazer um bom trabalho com esse agricultor, para que ele mude essa prática agrícola e utilize aqueles produtos que estão autorizados”, diz o gerente geral de toxicologia da Anvisa, Luiz Cláudio Meirelles.

O agricultor Cristiano Juliatto aprendeu a plantar sem veneno e gostou do resultado. “O consumidor final vai comer um produto de qualidade. Eu também não estou envenenando as pessoas”, destaca.

Na lista da Anvisa, os alimentos com menor índice de contaminação foram a banana, o feijão e a batata. E os consumidores devem cobrar e exigir qualidade do que se compra. Comer frutas, legumes e verduras é uma das recomendações para prevenir o câncer – melhor ainda, se forem livres de agrotóxicos.

O nutricionista do Instituto Nacional do Câncer (Inca) explica por quê: “os alimentos orgânicos têm uma quantidade de compostos quimiopreventivos, compostos anticancerígenos, que é 15% a 30% maior do que os alimentos que são produzidos com agrotóxicos”, explica o nutricionista Fábio da Silva Gomes, do INCA.

Na casa de Joel, ninguém duvida do poder dos orgânicos. Ele traz os alimentos da horta. E a dona de casa Rose Márcia de Carvalho prepara. Na casa deles, tem refeição orgânica todos os dias. Ela garante que o corpo já sentiu a diferença e se livrou de um tumor no útero. “Eu fiz duas cirurgias, até parei de trabalhar aqui para me cuidar. E o médico falou que eu não tenho mais nada”, conta.

Rose acha que foi a alimentação que ajudou a superar o problema. Ela aposta que a comida orgânica que a curou.

Mas se o que tem na geladeira de casa não é orgânico, o que fazer para, pelo menos, diminuir a carga de agrotóxicos? Os especialistas dão as dicas:

Sônia Stertz, química da UFPR: No caso de frutas, você deve eliminar a casca.
Luiz Cláudio Meirelles, gerente geral de toxicologia da Anvisa: Retirar folhas mais externas das hortaliças folhosas. Lavar abundantemente todos os alimentos.

Mas não espere que assim você vai ficar livre do veneno. “Aquilo que está na polpa do alimento não é retirado”, alerta o gerente geral de toxicologia da Anvisa.

A pesquisadora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) comparou amostras de alimentos orgânicos, convencionais e hidropônicos (aqueles cultivados em água). Advinha qual delas apresentou maior concentração de agrotóxico? “Os hidropônicos, para nossa surpresa, tem mais de 40% das amostras com algum tipo de contaminação”, revela Sônia.

Mas qual é o mal que os agrotóxicos podem causar? A lista de doenças é enorme. “Depressão, má formações congênitas, alguns tipos de câncer como leucemia e tumores de cérebro, transtornos da imunidade, alterações na qualidade dos espermatozóides”, lista o epidemiologista Sérgio Koifman, da Fiocruz.

Agrotóxicos também podem causar infertilidade, uma revelação para o produtor orgânico José Bassit. “Minha esposa não conseguia engravidar. Aí eu vi que alguma coisa estava errada”, conta.

Após sete anos em contato direto com pesticidas, hoje ele está convencido de que a culpa foi do veneno. José revela que tinha certeza de que era fértil e possuía até uma prova: “tinha um exame. No começo, era normal. Depois de três anos, a fertilidade foi caindo e, depois de sete anos, eu já não tinha mais espermatozóides vivos”, revela.

O agricultor José Gonçalves Durães ainda parece duvidar. “Nós fazemos exame direto, nunca deu problema”, afirma.

Pelo sim, pelo não, ele decidiu diminuir pela metade a quantidade de veneno que usa nas goiabeiras. Agora ele protege a fruta embrulhando cada uma delas. Ele veste uma a uma com saquinhos de papel. Só que ele ainda acha que a lavoura não sobrevive sem veneno.

 

 

fonte: http://g1.globo.com/globo-reporter/noticia/2011/03/agrotoxicos-podem-causar-doencas-como-depressao-cancer-e-infertilidade.html

data: 20/01/2015